domingo, 30 de setembro de 2012

UMA BOA HISTÓRIA: SEUS VEÍCULOS E SEUS MEIOS

Por Denis Pessoa

Olá, pessoal!
           
Depois de algum tempo, volto a postar por aqui, e hoje escrevo para comentar sobre os atuais meios e veículos utilizados para se contar histórias. Ora, já sabemos que ficção é quase como oxigênio, e precisamos dela todos os dias de nossas vidas. Porém, ela está mais presente do que imaginamos em uma primeira reflexão, e não apenas nos momentos que optamos por relaxar.

Nina, a mais recente vingadora.
O faz-de-conta é tão importante em nossas vidas, que, mesmo sem perceber, ocupamos muito de nosso tempo analisando, comentando, refletindo, como se o que discutimos se tratasse de algum fato real, sobre as histórias que nos são apresentadas: filmes, novelas, seriados, livros, peças. Cada um com um jeito singular de prender a atenção, de entreter e comover, de fixar em seu público a mensagem pretendida.

Norma, de vítima a monstro.
Pois bem: a meu ver, pouco se comenta sobre o modo de fazer essas histórias. Costumamos falar sobre o produto final – se gostamos, odiamos, se compreendemos ou não. Porém, geralmente ignoramos que o material que estamos acompanhando possui uma estrutura única, própria para o meio em que é veiculado, e ao seu público.

Nesse post quero falar basicamente sobre estrutura e linguagem. Por que o cinema se comunica de um jeito, TV de outro, se tudo é imagem? Por que não posso escrever um romance no formato de um roteiro e despertar o mesmo interesse? Por que as pessoas não leem meu roteiro com a mesma facilidade e interesse que leem um romance?

Emily: vingadora americana.
Vamos começar com a TV, já que vivemos em uma sociedade audiovisual. Especificamente, as novelas: diferentemente do cinema, tiveram, no inicio, como base, as radionovelas, que já existiam, ou seja, a prioridade, embora hoje, com TV’s maiores e melhores, que permitem imagens incríveis ainda é do áudio. Precisamos ouvir os personagens, seja o dizem ou o que pensam. Compreender ações e pensamentos dos personagens através de gestos singelos e olhares não combina com a telenovela, onde precisamos saber o que o personagem sabe. Segredos? Nosso protagonista pode ter com outros personagens, jamais com o publico. Novela é espiar o cotidiano alheio, é ter acesso diário aqueles personagens, em todos os instantes de suas vidas, é ter um compromisso com eles, por meses. Novela, diferente do cinema, é convivência. E descobrir algo desconhecido de alguém com quem se convive por meses não poderia despertar outra sensação que não a de traição.
O romance que inspirou nossas atuais justiceiras.

Novelas, por serem obras muito mais longas, não permitem muitas sutilezas. Tudo precisa ser expansivo, suntuoso, ter todo seu potencial dramático explorado até as últimas consequências e lágrimas.



Edmond Dantés: o vingador mais famoso.
Diferente das novelas, que possuem um público mais abrangente, o cinema pode restringir ao extremo os seus temas, intentos e público alvo, embora evidentemente o cinema como indústria possa visar exatamente o contrário. O cinema pode dar-se o luxo de ser subjetivo em suas “morais da história”. Permite com mais facilidade personagens e desfechos ambíguos. Em novelas isso também é permitido, porém, obra mais democrática, a telenovela precisa fazer com que sua mensagem seja captada pelo público em sua totalidade. Embora possa oferecer algumas dúvidas, é obrigada a proporcionar quantidade superior de certezas.

Famoso e cruel romance epistolar.
Com os seriados, a coisa funciona um pouco diferente. Utilizando como base os seriados americanos, já que a produção de seriados dramáticos no Brasil não é tão prioritária e não segue os formatos que já estamos acostumados a ver, podemos perceber que nessas obras, os personagens já podem ser menos lineares. Como a novela pede personagens mais evidentes – não quer dizer personagens rasos – os personagens de seriados podem oscilar mais, ser ambíguos. Não há necessidade de ser bom. Como o seriado abrange um publico mais restrito, fica possível explorar mais possibilidades, arriscar mais. De uma temporada para outra, um personagem pode retornar com a personalidade completamente reformulada, sem que isso altere ou deturpe o produto final. Um vilão pode ser o protagonista. Não há obrigatoriedade de ter um representante do bem, por exemplo, se a série é sobre mafiosos. Ou o bem não necessariamente triunfa nestes casos. Isso não choca e revolta o público. Em seriados, falamos de mundos restritos: polícia, advogados, serial killers, atores, enfim.

Adaptação do romance em 1989.
Fica sendo o grande diferencial dos seriados em relação às novelas. Em parte devido ào tamanho da obra, um seriado, consideravelmente menor em capítulos e maior em período de produção que uma novela, tende a ter menos personagens, e se focar mais na trama central que em tramas paralelas. Nas novelas, o público geral pede uma grande variedade de personagens na mesma obra: os que fazem rir, os que fazem chorar, os que dão medo. Em um seriado, os mesmo personagens adquirem todas essas funções ao mesmo tempo.

Por fim, sua versão teen contemporânea.
Nos seriados, assim como nas novelas, existe a convivência com os personagens e seu universo. Embora só os vejamos em momentos cruciais e marcantes de suas vidas, diferente de uma novela, onde podemos acompanhar nossos heróis e vilões em todo tipo de situação corriqueira, em tal ponto, nos sentimos íntimos deles, especialmente porque geralmente esperamos uma semana para reencontrá-los.

Romance de 1958.
Depois disso vem a sétima arte, visual por natureza. O cinema não pede diálogos obrigatoriamente. Aqui os atores não precisam falar: imagens, expressões e ações valem mais e dizem mais, pois aqui, o tempo é curto. Por isso, exige-se do cinema um realismo e verossimilhança maiores. Uma novela sem diálogos cansaria um telespectador.

Temos também a literatura, e aqui nos me restrinjo aos romances. Os romances literários tem incontáveis formatos e estilos e é muito difícil generalizar, sendo talvez a forma mais livre de todas para se contar uma história. Nem por isso deixa de ter suas regras. Aqui, prima-se pela narrativa dos acontecimentos, pensamentos e diálogos. Em literatura, a despeito dos grandes romances e franquias literárias, dificilmente se exercita a convivência, embora possamos nos sentir íntimos dos personagens através da exposição, clara ou metafórica dos seus sentimentos. Algo único, em se comparando à TV e o cinema.

Sônia Braga: Gabriela na TV e no cinema.
Então, temos o teatro. Tal qual o cinema, o teatro tem como meio de transmissão de sua mensagem, a imagem. Porém, não somente isso. Com o contato direto com o ator e o cenário, o público tem o prazer de imaginar. Ao contrário do cinema e da TV, que oferece um universo pronto, o teatro, tal qual a literatura, expõe fragmentos de uma imagem ou pensamento. O resto fica por conta da imaginação de quem assiste a peça. Assim como o cinema, o teatro tem um tempo muito curto para passar uma mensagem, ou seja, precisa ser bem incisivo, ou corre o risco de não mostrar a que veio.

Juliana Paes: nova adaptação.
Espero que vocês tenham notado, nessa breve análise, que cada tipo de obra preenche necessidades únicas, que se completam . Obra completa contada através de um único meio é algo que não existe. Se pegarmos a mesma história e adaptarmos para teatro, cinema, TV, literatura ou música, serão diferentes releituras, novos significados, novas versões. À exemplo, a “Gabriela” de Walcyr Carrasco, que, tenha sido embora fiel ao livro, precisou de arranjos para se tornar uma novela com mais de 60 capítulos. Walcyr extraiu cada gota de informação oferecia pelo livro de Jorge Amado – algo que o autor tem feito muito bem por sinal. Transformou cada mera citação do romancista em uma trama em potencial para a novela, e com isso, deu uma nova cara a já louvada obra. Como por exemplo, o casal Osmundo e Sinhazinha, que quando o livro começa já estão mortos, na novela tem a oportunidade de viver, em detalhe a sua história de amor e desfecho trágico.

Pessoal, vou ficando por aqui, pois acho que vocês já sacaram o que eu quis dizer. Encerro este post perguntando a vocês por mais exemplos de formatos para se contar uma historia, além de bons exemplos de histórias que já foram contados em mais de um formato, as que vocês gostaram, as que não gostaram, e por quê.

Comentem! Participem!

Um grande abraço!

sábado, 29 de setembro de 2012

Hebe, uma estrela no ar!


Por Eduardo Vieira

Esse era o prefixo do seu programa com o qual eu cresci, adolesci, fiquei adulto. Estava longe e confesso, triste de ela estar numa emissora diferente da do Sbt. Temos uma visão idealizada de algumas coisas e a relação dela com o Silvio Santos não foi diferente. Por mais desgastada que estivesse, sempre fora muito bonita.


Quando criança eu via programas como o dela e da Elizeth Cardoso na Tv Record para o qual ela não poderia voltar por conta de suas alusões a sua Santa querida. (A religião definitivamente é um paradoxo – não liga ninguém) Desde criança também assistia a seu programa na Tv Bandeirantes, quando as pessoas mandavam carta para ganhar a famosa casinha colmeína - marca de uma cera famosa na época - uma casa linda de vidro – objeto de cobiça de toda família assim como o mais do que esperado telefonema de Flávio Cavalcante para bradarmos “boa noite, brasil”, título do programa que nos garantia uma boa soma em dinheiro.


Não conhecia a Hebe em preto e branco até então. Uma mulher cuja carreira engatinhou junto à Tv, uma Tv mais discreta, muito mais espontânea (como a própria Hebe) e muitíssimo culta a qual havia teleteatros, programas musicais e de entrevistas com personalidades de um quilate do cronista Rubem Braga, mesmo péssimo entrevistado, segundo ela. Já peguei o programa com esse formato, do sofá e convidados que interagiam com a apresentadora, de Rita Lee a Leonardo, artistas bissextas como Maria Bethânia e Marisa Monte passaram pelo Sbt em seu sofá para lançar seus trabalhos. 


Hebe era sempre assunto, pela sua postura, pela sua pouca cultura elitista que ela mesma confessava, pela sua falta de vergonha, pelos seus vestidos, pela ostentação, pelas perucas ou penteados que lançavam discussões tão profundas como se ela ficava melhor de Evita ou de chanel à Vanusa. Várias facetas a acompanharam: Tina Turner, cara-pintada, Xuxa, Carlitos, Julieta... Sempre homenageando os quadros de humor do passado em que seu Romeu era Ronald Golias numa Tv pura, ou quadros musicais como os com Ivon Curi. Ela trazia a história do Rádio, do Cinema e da Tv em seus comentários, até por vezes datados.


Noveleira, sempre reclamava quando tal novela estava mais ou menos e tietava os artistas quando estes compareciam a seu programa, quebrava a barreira de não se falar bem ou mal de tal emissora como poucos faziam. Fausto Silva aprendeu isso com ela, o que é bom. Era a sua marca a espontaneidade e todos tiveram aval para gostar dela e tornou-se numa certa época tradução da cidade de São Paulo pela revista Veja-São Paulo.Os artistas iam a seu programa ainda pra poder garantir uma boa platéia em peças e vi muita gente lá como Paulo Autran, Renata Sorrah, Lucélia Santos, Nívea Maria, Antonio Fagundes que sabiam que seu programa estava acima do bem e do mal. 


Mesmo quando seu programa não estava do jeito que ela gostava sempre deixava um recado em um comentário quando recebia pseudo-artistas, por exemplo, ou havia algum programa, até na própria emissora em que estivesse, que ela decididamente não gostava como os de cunho muito popular, por exemplo. Mas tinha um grande feeling para o que era bom, claro que com algumas exceções.


Por mais que se escreva não se pode abarcar vida tão plural como a da cantora, apresentadora, amiga, fã da arte que se permitia errar, talvez por essa razão nunca tenha ido para Rede Globo, templo da perfeição à toda prova e todo custo.


Sentirei falta de sua naturalidade, de sua positividade (até excessiva por vezes), de sua frivolidade, de sua consciência social (política, nem sempre) do seu apoio aos artistas e das rosas de Kátia Gianini. Tchau, Hebe!!!

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Elenco, Texto e Direção Cheios de Charme


Por Emerson Felipe.

Muitos críticos e céticos há tempos profetizam o fim da telenovela em razão dos baixos níveis de audiência em comparação com os dos anos 70 e 80, o esgotamento das fórmulas do folhetim clássico e o acesso a novas plataformas, como internet. Ainda assim, vez em quando surge uma novela diferenciada para pôr em xeque tais assertivas e provar que o gênero ainda é capaz de mobilizar com fervor o público: assim foi Cheias de Charme, que conquistou o público na faixa das 7. A saga das três empregadas domésticas, Maria da Penha, Maria do Rosário e Maria Aparecida, que se tornam estrelas musicais da noite para o dia, garantiu excelente audiência e uma intensa e positiva repercussão nas redes sociais.





As três Marias de Cheias de Charme eram, cada uma a seu modo, fortes e carismáticas, com quem o público facilmente se identificavam. Penha foi defendida com muita emoção por Taís Araújo: a típica brasileira que vai à luta, uma batalhadora que vence na vida com o próprio esforço, apoiada em valores humanos. Leandra Leal construiu muito bem a decidida Rosário, cuja grande aspiração era tornar-se cantora, representando a trajetória de muitos brasileiros que realizam um sonho com os próprios méritos sem lançar de meios insidiosos. E Isabelle Drummond cada vez melhor enquanto atriz, ao criar a doce e romântica Cida, por vezes ingênua, mas com personalidade e sem cair no lugar-comum da mocinha fraca e estereotipada. Unindo seus sonhos e ideais, construíram uma das parcerias mais acertadas já vistas: o divertido grupo musical As Empreguetes, cujos hits “Vida de Empreguete” e “Maria Brasileira” marcaram a novela e fizeram sucesso também fora dela.

Para balançar com as estruturas do super trio de protagonistas e brigar de igual, só mesmo uma vilã de peso: o furacão Chayene, interpretada com muito charme por Cláudia Abreu. A experiente e carismática atriz deitou e rolou com o delicioso texto, explorando toda a caricatura possível da extravagante cantora e super estrela de techno-brega que vê o seu reinado ameaçado pelas Empreguetes. Os apelidos jocosos que atribuía aos seus desafetos e mesmo aos seus próximos (curica, urubu, franguinho) e as divertidas armações com a sua fã Socorro (Titina Medeiros) eram puro deleite. Como não rir da incapacidade da Brabuleta de falar corretamente o nome de Rosário?! "Rosalba", "Rosete", "Rosene", "Roxana", "Rosisca", "Rosiranha" e "Rosimunda" foram  algumas das pérolas de Chayene. Só uma super atriz versátil e competente como Cláudia Abreu para se entregar de corpo e alma ao nonsense, dançando e cantando a plenos pulmões, e fazer de Chayene uma grande personagem.

Parte do sucesso e importância de Chayene se deve também à maravilhosa coadjuvante com peso de protagonista: a personal-curica Socorro, vivida com competência pela estreante em telenovela Titina Medeiros. A parceria entre a Brabuleta e a fã maluca SOS deu certo, gerou hiláriaas situações e facilmente caiu nas graças do público. Cômico o momento em que Socorro escapa de um linchamento e surge poderosa das águas do rio cheio de piranhas tal qual Isadora Ribeiro na famosa abertura do Fantástico, assim como o seu visual de Lady Praga ao tentar ser cantora profissional!
  


A direção de Cheias de Charme contribuiu para a construção de um visual único que marcou a novela. O uso constante de briho, plumas, cenários e figurinos exagerados e acessórios extravagantes pela direção de arte resultou numa novela de forte e personalíssimo apelo visual, com um universo próprio e propício a uma história musical. Atrações à parte foram as ''gags'', as edições aceleradas e os surreais sonhos de Chayene, que chegou a virar uma mulher-gorila! Aliás, os já citados hits das Empreguetes junto com os de Chayene ("Vida de Patroete" e "Xote da Brabuleta") e do príncipe das domésticas, Fabian (Ricardo Tozzi), renderam ótimas performances musicais e videoclipes, fazendo de Cheias de Charme uma verdadeira comédia musical. Uma proposta ousada e poucas vezes vistas na televisão, assim como Cambalacho de 1986.

A novel dupla de autores, Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, teceram um texto popular, divertido e de qualidade, dialogando com todas as classes, idades e públicos. Utilizando-se por vezes de narrativa ágil e de tiradas/frases de efeito, e de artifícios ousados como as citadas ''gags'' (filmadas com criatividade pela direção), o roteiro de Cheias de Charme inovou e conquistou o público. Ainda que o texto tenha pisado no freio a partir do fim das Empreguetes, criado entrechos supérfluos - como o súbito e forçado romance entre Penha e Gilson (Marcos Pasquim) - e se repetido, recuperou-se com força total e retomou a criatividade de outrora.  Os autores exploraram com frescor as situações clichês, como a impactante solução do mistério sobre a semelhança física entre Inácio (Ricardo Tozzi) e Fabian, e o sequestro da mocinha no penúltimo capítulo (com um desfecho musical em vez dos tradicionais tiroteios).

Frise-se, ainda, a boa dose entre humor e drama: apesar do predomínio da comédia musical, Cheias de Charme não esqueceu o tradicional drama. A amizade de Penha com a honesta advogada Lígia (Malu Gali em luminosa interpretação), testada ao longo da novela por problemas amorosos e familiares; os entrechos folhetinescos entre Cida e a opressora família Sarmento; e a ruína moral, social e econômica desta última renderam emoção e cenas catárticas em Cheias de Charme. Ademais, o rico texto foi explorado com vigor por Alexandra Richter: com uma interpretação soberba, a atriz mostrou sua versatilidade no drama após bons papéis cômicos, em ótima química com Tato Gabus.




Além de retratar a questão do predomínio da música brega e popular no atual cenário musical - inclusive com participações de artistas do gênero na novela - Cheias de Charme retratou de forma inteligente a ascensão da nova classe C, sem estereótipos forçados. As Empreguetes, após uma vida modesta, ascendem socialmente pelo próprio esforço e talento, enquanto a elite antiética decai economicamente. E com muito bom humor: as madames Sônia e Branca (Mônica Torres), por exemplo, disputam os ''serviços'' do pobretão Sandro (Marcos Palmeira); a empregada Gracinha (Lidi Lisboa) é tratada de igual para igual pelos patrões Ariela (Simone Gutierrez) e Humberto (Rodrigo Pandolfo); e a sedutora periguete Brunessa (Chandelly Braz) finalmente conquista a chefia da Galerie dos Sarmentos. Ademais, os autores foram felizes ao fugir da ideia de que toda a suposta nova classe C é parca de bagagem cultural: tocante a cena em que Penha se emociona com o recital de ópera no Real Gabinete Português de Leitura, ao lado do sofisticado Otto (Leopoldo Pacheco).

O flerte com a internet e outras plataformas como DVD's e pendrives foi outro grande acerto de Cheias de Charme. Muitas tramas desenrolaram-se a partir de tais elementos e só foram contadas e reveladas ao público por meio da interação entre televisão e internet (o lançamento do videoclipe "Vida de Empreguete" se deu não na novela, mas no site oficial de Cheias de Charme;  as campanhas no twitter #EmpreguetesLivres e #EmpreguetesPraSempre entraram nos trend topics). Os autores conseguiram construir uma novela diferente, unindo os elementos básicos do folhetim às atuais tecnologias - o sucesso das 9, Avenida Brasil, não logrou êxito nessa mesma proposta.

Com um texto criativo e moderno antenado com os novos tempos da informatização, um elenco muito bem escalado e uma direção personalíssima, Cheias de Charme tornou-se um dos grandes sucessos das 7. A prova cabal de que a teledramaturgia está longe do fim e que ainda pode surpreender, inovar, recriar e emocionar num cenário demasiadamente industrializado e pasteurizado da teledramaturgia. Cheias de Charme mostra que a telenovela está mais viva do que nunca e muito bem, obrigado.


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Entrevista com Adilson Dias - Batalhador, Conquistador... Um cara de sorte!

Adilson Dias é artista plástico, ator, coreógrafo, diretor teatral. Um cara talentoso que soube abraçar as oportunidades quando estas lhe foram apresentadas. Conheçam um pouco mais do meu entrevistado, a quem desde já agradeço pela atenção!


Por Isaac Santos

Isaac Santos – Quem é o Adilson Dias?
Adilson Dias – Alguém fora do meu tempo, que oscila entre o ser e não ser com muita facilidade... Não gosto de definições, mas acredito em minhas verdades nada absolutas.
Isaac Santos – Mas você tem uma história de vida que vale a pena ser evidenciada. Fale-nos sobre a sua infância.
Adilson Dias – Minha infância no país em que vivemos, foi como a de muitos brasileiros do Oiapoque ao Chuí... Minha mãe teve onze filhos. Eu saí de casa para engraxar sapatos na Central do Brasil. Daí até eu parar nas ruas a distância foi mínima.
Isaac Santos – Você deve ter enfrentado muitas adversidades nesse período.
Adilson Dias – Sim. Com certeza... A vida nas ruas não é nada fácil. Os meninos marginalizados assaltavam com gargalo de garrafas e canivete.
Isaac Santos – Isso me remete a um instante crucial de sua vida, em que o destino pôs em seu caminho o saudoso Sérgio Brito, um "monstro" da dramaturgia brasileira.


Adilson Dias Sergio Britto foi meu pai, meu mestre... Todo o conteúdo e referências artísticas que tenho hoje, sem duvida, devo a ele. Ainda não superei a sua ausência. Desde a sua morte não tive coragem de ir em Santa Tereza, onde ele morava. Antes tinha um objetivo mais que a beleza para ir lá, hoje ficou um vazio para mim.
Isaac Santos – E você sofreu preconceito por optar por uma vida artística?
Adilson Dias – Até hoje. Ainda me perguntam quando essa loucura vai passar (risos).


Isaac Santos – A arte te possibilita uma vida estável financeiramente?
Adilson Dias – Ainda não. Mas sou um “favelado” de sorte... Moro na Cidade de Deus. E quando digo “de sorte”, me refiro ao fato de ter agarrado as oportunidades que surgiram.


Isaac Santos – Como é a sua relação com os demais artistas “favelados”?
Adilson Dias – Aqui na Cidade de Deus mora meu grande amigo Leandro Firmino [fez o Zé Pequeno no filme Cidade de Deus], o cara que me recebeu muito bem aqui na comunidade, há dois anos. A família dele me adotou (risos). Quanto aos demais, tenho uma boa relação com a maioria. Todos envolvidos com os seus projetos.
Isaac Santos – E você, o que tem feito?
Adilson Dias – Cheguei de Cuba no início do mês, onde estive representando o Brasil num festival. Desenvolvo um trabalho de arte educação [Projeto SESI Cidadania em Comunidades Pacificadas - UPP] na Cidade de Deus e no Morro do Andaraí. Sou cria de Comunidade, é o espaço urbano em que atuo, minha linguagem, minha “pegada”. Sinto-me honrado por ter o meu trabalho reconhecido: no último dia 17, recebi o Prêmio Lions Clube pela minha atuação como arte educador de comunidades cariocas.   
Isaac Santos – O público de modo geral, ou até mesmo os seus colegas artistas de outros meios, como percebem a sua arte?
Adilson Dias – Sou oriundo do meio, consigo falar a linguagem do meu povo com mais propriedade. Hoje consigo que as pessoas observem a minha arte sem necessariamente pensar em quem fui. Oscilo entre um grande encontro de artistas chiques e famosos numa galeria na Barra da Tijuca e um churrasco na casa de Seu Jorge, o pai do Leandro Firmino, na Cidade de Deus.
Isaac Santos – Projetos?
Adilson Dias – Estou dirigindo um Infantil para o final do ano. E outro projeto envolvendo o ritmo funk, voltado para as comunidades.
Isaac Santos – Então desejo mais e mais projetos concretizados, bem sucedidos, enfim. Obrigado pela atenção!

Vídeos: Programa Arte com Sergio Brito - TV Brasil

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

GAL COSTA E AS NOVELAS!


26 de setembro, dia de aniversário de Gal Costa, uma das artistas mais completas da Música Popular Brasileira. Convidei o amigo Robério Silva, um de seus fãs mais fervorosos, a desenvolver um texto sobre a presença marcante da cantora nas trilhas sonoras da teledramaturgia brasileira.  Ele topou, e o fez primorosamente. Obrigado pela sua participação especial, meu caro. Confiram!

Robério Silva é professor universitário, Doutor em Literatura pela UFF. 
Escrever sobre a participação de uma de nossas maiores cantoras no repertório já extenso das trilhas televisivas no Brasil é uma tarefa das mais saborosas, pois me faz voltar a momentos preciosos de nossa teledramaturgia bem como, no caso das canções mais antigas, a lembranças saborosas da infância e adolescência.
Talvez uma das vozes mais presentes nas trilhas de nossas telenovelas, Gal Costa está presente em obras históricas da teledramaturgia, chegando mesmo a participar de cenas, sobretudo de uma já antológica, em Dancin’ Days, e outras também da fatura de Gilberto Braga.
Tentei aqui reunir dois critérios na classificação e apresentação das canções que mais marcaram a obra televisiva e a carreira da cantora junto ao aspecto afetivo que sempre permeia os textos que escrevemos sobre teledramaturgia. Também segui nosso querido blogueiro e roteirista Vìtor de Oliveira  e criei um rank de melhores canções da Gal. Vamos a elas.

10 – Caminhos Cruzados (Mulheres de Areia – 2a. versão, 1993; O Profeta – 2a. versão, 2006): nessa bela canção, Gal Costa mostra seu canto límpido e disciplinado nos acordes da bossa nova de Tom Jobim, que a considerava uma de suas melhores intérpretes. A gravação se adaptava bem aos rumos amorosos das duas tramas globais, acentuando o clima romântico de ambas.

9 – Meu bem, meu mal (Brilhante – 1981; Queridos Amigos – 2008) esta parceria sexy com seu irmão artístico e principal influência nos primeiros anos de carreira, Caetano Velloso, foi um hit romântico durante quase toda a década de 80, e ajudou a compor o clima chique de Brilhante e os desencontros amorosos da minissérie Queridos Amigos.


8 – Futuros Amantes (História de Amor – 1995): curiosamente, tinha quase certeza de que esta bela canção de Chico Buarque que encontrou uma suave tradução na voz de Gal, também fazia parte da trilha de A idade da Loba, exibida pela Bandeirantes no mesmo ano em que a Globo transmitia mais uma trama envolvendo uma Helena de Manoel Carlos, a primeira encarnada por Regina Duarte e que alcançou grande sucesso. Ao som da bela interpretação de Gal Costa, acompanhávamos a luta de Helena por seu amor e pela formação final da terrível filha. Na verdade, a canção que soava na trama da Band era Lindeza, mais uma bela composição do Mano Caetano.


7 – Dez Anos (Ciranda de Pedra – 1981; Dinheiro Vivo [Tupi]- 1979) – esse bolerão romântico até a raiz encontrou uma interpretação sofisticada na voz cristalina de Gal, criando um clima todo especial para a personagem Laura, de Ciranda de Pedra. Tenho uma relação especial com esse tema por já possuir o disco “Gal Tropical” à época em que a adaptação do romance homônimo de Lygia Fagundes Telles ia ao ar no horário das seis. Deliciava-me com Gal e me assustava um pouco com a trama algo sombria da novela.

6 – Baby (Transas e Caretas – 1984 ; Ninho da Serpente – 1982 ; Anos Rebeldes – 1992): chegamos ao terreno dos clássicos de Gal, encontrando aquele que foi seu primeiro hit radiofônico e encontrou repercussão em três produções da teledramaturgia. Acredito que a versão presente na trilha de Transas e Caretas seja a de 1982, gravada em parceria com o Roupa Nova. A versão clássica compôs a trilha do grande melodrama Ninho da Serpente, exibido pela Bandeirantes, trilha, aliás, composta por grandes clássicos. No entanto, é na minissérie Anos Rebeldes que a canção ganha um status de grande tema de toda a história, sendo repetida em diversas cenas, ajudando a compor e embalar os conflitos dos jovens, revolucionários ou não. “Baby” é quase uma personagem da obra. Impossível pensar na minissérie e não nos remetermos à gravação da jovem Gal.

5 – Força Estranha (Os Gigantes – 1979): se a novela foi um fracasso – uma pena, pois lá estava uma das maiores interpretações de Dina Sfat, no papel de Paloma – o mesmo não se pode dizer desse registro de Gal Costa, uma de suas mais fortes interpretações, dessa maravilhosa letra de Caetano Velloso. Em nossa modesta opinião, nenhuma versão, nem mesmo a de Roberto, superou a de Gal. Neste caso, venceu a música.

4 – Só Louco (O Casarão – 1976): Gal Costa como abertura de novela e cantando Dorival Caymmi, eis um paradigma das trilhas de novela. Embora não tenha sido a primeira vez, a canção se colava imediatamente à novela, uma das mais líricas da história televisiva. Todo o clima romântico da obra já aparecia embalado na interpretação intimista da cantora e no arranjo sutil.


3 – Folhetim (Dancin’ Days - 1978): não bastava a canção para representar a sofrida, mas batalhadora Júlia Mattos, vivida inesquecivelmente por Sônia Braga, Gal acabou aparecendo em uma cena da novela cantando numa festa de Yolanda Pratini (Joana Fomm), que pede à irmã heroína que preste atenção à letra de Chico. Momento e gravação antológicos.


2 – Brasil (Vale Tudo – 1988): embora cantada pelo próprio compositor, Cazuza, e por outros artistas, foi na voz de Gal que o grito de impaciência da nação diante da cultura da Lei de Gèrson encontrou a mais forte transmissão. Já no primeiro capítulo, com a abertura da novela, os telespectadores sabiam o que esperar; a intensidade da interpretação de Gal não cansou o público que se viu preso às aventuras e dramas de Raquel e Maria de Fátima Aciolly  e os Roitman, nessa que, com certeza, é uma das cinco mais importantes telenovelas da história.


1 – Modinha para Gabriela (Gabriela – 1975 e 2012). Será mesmo uma coincidência escrever sobre o clássico de Caymmi, no momento em que mais uma vez a Globo adapta o romance de Jorge Amado, e mais uma vez a gravação histórica de Gal é utilizada para a abertura da novela? Talvez. Mas o que poderia traduzir e resumir melhor uma telenovela através de sua canção-tema? Pouquíssimas vezes uma canção pode estar tão ligada a uma telenovela como neste caso. Gal empresta toda a brejeirice baiana para dar vida à voz de Gabriela, interpretando quase como atriz a canção do baiano maior da música. É sintomático que se tenha recorrido à mesma gravação para o remake da clássica novela. Na minha cabeça de criança pequena, a imagem de Sônia Braga e a voz de Gal se fundiam para formar essa figura maior chamada Gabriela. Clássico dos Clássicos das trilhas e das aberturas.


Gal Costa é definitivamente uma das vozes maiores da teledramaturgia musical.

domingo, 23 de setembro de 2012

ARTE!

by Sidney Rodrigues





A peça ARTE em cartaz em São Paulo até dia 07 de Outubro, além de ser uma ótima diversão, garantia de boas risadas, é o tipo de espetáculo que faz o espectador sair de lá pensando e tentando chegar a um consenso sobre o que foi discutido e é incrível o quanto você fica pensando e tentando trazer para sua vida.

O tema da peça é a amizade entre 3 homens, que poderiam ser 3 mulheres ou pessoas de sexos diferentes, o que está em questão na peça é o fato de que nas nossas relações de amizade nem sempre somos transparentes e dizemos aquilo que realmente achamos do outro, às vezes para não magoar, às vezes por receio de parecer ridículo ou até mesmo por não saber o que dizer em certas situações. Muitas vezes deixamos de dizer o que pensamos e isso torna-se uma bomba relógio em nossa mente, que mais cedo ou mais tarde acaba por explodir e nem sempre na melhor hora. Muitas vezes estas explosões de humor acabam detonando amizades que poderiam durar a vida toda, ou aquelas que permanecem vivas por muito tempo.

O fato é que a peça nos faz pensar nas relações de amizade. Quem nunca perdeu um amigo de longa data, por uma frase mal dita, numa hora errada e esta pessoa deletou você de sua vida sem ao menos vir falar com você?

Quem nunca teve uma amizade por longos anos e do nada o outro lado corta o vínculo com  sem ao menos lhe dizer o porque de tal ação?

Vejo apenas que algumas pessoas são suas amigas em certos momentos da vida, mas não se preparam para serem honestas. Sou sempre muito a favor de que ao ser magoado por alguém, eu possa chegar até essa pessoa e expor o que ela fez que me chateou, para que ela possa se desculpar, entender que não foi legal ou até mesmo confirmar que fez porque quis e que era o que sempre quis fazer. Só acho ruim, quando a relação é interrompida sem nunca saber o que você fez de mal ao outro, se é que fez, pois sabemos que muitas vezes não é o que você fez, mas algumas pessoas que invejam seu relacionamento e não conseguem ter o mesmo afeto, que acabam por envenenar seus amigos.

Claro que se a pessoa se diz sua amiga e não lhe procura para aparar as arestas e resolver as pendências, é bem provável que ela NÃO SEJA sua amiga de verdade, e nesses casos é melhor que nunca mais participe de sua vida, afinal, se ela não tem a gentileza de resolver fofocas que alguém disse de você, apesar dos anos de convivência, talvez seja o momento de você perceber quem realmente esta pessoa é.

ARTE é uma peça que fala de amizade, de entender que os amigos são amigos independente do que fazem e das ações que tomam na vida, ser amigo é respeitar a opinião e não tentar vender aquilo que você acha correto.

O verdadeiro amigo dá a sua opinião sobre as coisas mas não força você a ver as coisas apenas pela ótica dele. Respeito ao outro é a maior prova de amizade que alguém pode dar, e quando somos sinceros e verdadeiros, mesmo as grandes polêmicas ou os grandes QUADROS BRANCOS (quem viu ou for ver a peça vai entender) são bem interpretadas (os).

Vladimir Britchta, Marcelo Flores e Claudio Gabriel têm, cada um, grandes momentos na peça, e é impossível que você não torça por um deles em algum momento do espetáculo. Mas sem dúvida a maior das torcidas é a de que a amizade sobressaia a todas as turbulências.

     
     ARTE    

      De Yasmina Reza
        Direção Emílio de Mello
 VLADIMIR BRITCHTA, MARCELO FLORES e CLAUDIO GRABRIEL


Serviço:
                                                                                                                          
ARTE
Teatro Renaissance (462 lugares)
Alameda Santos, 2.233 - Cerqueira César. 
Central de Informações: (11) 3069-2286

Sextas às 21h30, Sábados às 21h e Domingo às 18h.

Ingressos: R$ 80,00
Duração: 90 minutos
Recomendação: 14 anos

Temporada: até 07 de outubro

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